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Paulinho, o ator e bilheteiro

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Convivi no centro da cidade de Santa Maria, por mais de 50 anos, com o Paulinho, o meu querido amigo anão bilheteiro, batizado Paulo Neron Rodrigues. Especializado em vender unicamente bilhetes de loteria da Caixa Econômica Federal. Ele me reservava bilhetes sob encomenda, com a centena final do número da casa do meu pai na Rua Silva Jardim: 2.431. Anos a fio, comprei bilhetes de final 431.

Como eu dava aulas no recém-criado Instituto Master que funcionava no Edifício Segala, onde anos depois funcionou a Rádio Guarathan, encontrava o Paulinho diariamente no Café Cristal, para um bate-papo e para o cafezinho e fofocas do dia. Seu Bráulio Araujo Souza, funcionário da Livraria do Globo e que seria meu futuro sogro, participava da conversa. Ele era tesoureiro da Escola de Teatro Leopoldo Froes e muito amigo também do Paulinho, que - afinal - era amigo de toda a cidade.

Paulinho era ator amador da Escola de Teatro Leopoldo Froes, criada e dirigida durante toda sua existência pelo teatrólogo e memorialista Edmundo Cardoso, pai do Claudinho Cardoso, figura conhecida e querida de todos nós. Paulinho atuou em várias peças infantis da escola de teatro, ao lado de dezenas de outros conhecidos, como os amigos Horst Oscar Lippold ("Tio Óca", do Socepe) e o Raphael Theodorico da Silva ("Pinha", falecido em 2015).

Assisti a todas as montagens da Leopoldo Froes, especialmente aquelas onde o Paulinho trabalhava ("Pluft, o Fantasminha", "Maria Minhoca", etc...), mas lembro em especial e com muito carinho do sucesso da "Dona Patinha Vai Ser Miss". Tenho bem vivo o carinho que o Paulinho teve para com o Claudinho logo depois do falecimento da saudosa Edna May Cardoso, sua mãe e a demonstração de viva amizade para com seu velho amigo e diretor Edmundo Cardoso.

Paulinho morava bem perto do Calçadão, à Rua Dr. Pantaleão. E nos finais de tarde, depois de esgotada a venda dos bilhetes e vencida honestamente mais uma jornada de trabalho, Paulinho costumava escutar o noticiário, comer um lanche e tomar uma cerveja num pequeno restaurante que então existia ao lado na Mercado Itaimbé, na Venâncio Aires, a caminho de sua casa.

Quando o querido amigo Paulinho faleceu, lembrei de uma crônica do festejado teatrólogo e escrito Nelson Rodrigues onde ele afirmava nunca ter visto ou ouvido falar no enterro de um anão. Nelson Rodrigues, vivo fosse, teria ficado surpreso com a quantidade de pessoas, amigos e autoridades no velório do nosso querido Paulinho, tal seu prestigio e sua popularidade.

Nesse meu isolamento social que já dura mais de seis meses recomendado pela minha médica por causa da pandemia, uma vez que pertenço ao grupo de risco por causa da idade e sobrepeso, tenho escrito muito sobre a memorialística da cidade. E minha cabeça, durante as madrugadas em que perco o sono, tem sido povoada pelas lembranças de centenas de pessoas queridas com as quais tive a felicidade de conviver. Na última madrugada pensei muito no Paulinho e no bilhete que sempre guardava para mim.

Hoje vou pedir para alguém comprar o bilhete da Federal de final 431...

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